Caso Joanna Maranhão: Crônica de uma morte anunciada

Vi a matéria no Bom Dia Brasil, da Rede Globo sobre o abuso sexual sofrido pela nadadora Joanna Maranhão, quando do início de sua carreira no Recife. A matéria trouxe o assunto como fato concreto, realmente acontecido, quando na verdade não passa de uma acusação de um possível crime acontecido há 11 anos. A forma como a imprensa brasileira está noticiando os fatos me lembra um dos ótimos livros de Gabriel Garcia Marquez, o “Crônica de uma morte anunciada”.

Apesar de não ter assitido a todas as publicações do dia sobre o assunto foi fácil perceber pelas matérias veículadas na internet, o rumo que a imprensa brasileira está dando ao caso. O fim me parece não ser um dos melhores. Começando pela primeira matéria do dia sobre o assunto, a do Bom Dia Brasil, da Rede Globo, que além dar o caso como fato concreto, trouxe depoimentos de outros técnicos da nadadora e sonoras com pais de jovens atletas dizendo coisas do tipo: “não podemos deixar nossos filhos sozinhos, principalmente na hora de ir no banheiro”.

Os erros cometidos em 1994, com o exemplar caso da Escola Base, parecem resurgir das cinzas. Primeiro, a nadadora usa a imprensa, a SporTV News da França, para tornar pública a acusação a seu ex-treinador. Já no Brasil e com o clima vamos linxar o técnico, a mãe da nadadora torna público o nome do acusado. A imprensa e suas ferramentas de hotnews (notícias quentes) e notícias de última hora nem se aperreiam em divulgar o nome do possível violador.

A divulgação pública do nome do acusado, principalmente pela mídia faz com que medidas sejam tomadas de forma precipitada, a exemplo da demissão do técnico de seu atual emprego, o que já aconteceu. Joanna e sua mãe, apesar de ressentidas ainda não deram entrada num processo contra o ex-técnico e se irão fazer, farão por pressão indireta da mídia que precisa de mais fogo na lenha.

Fogo na lenha que pode queimar a própria imprensa, ao não apurar corretamente o caso. Apuração esta que deveria começar com perguntas simples do tipo: Por quê denunciar só agora? Por quê colocar este fato acontecido há 11 anos como motivo dos maus treinos e consequentemente maus resultados? Por quê ainda não deram entrada num processo contra o ex-técnico?

A imprensa e a violência sexual – A imprensa brasileira ainda não aprendeu a cobrir corretamente casos jurídicos, judiciais e até mesmo os policiais. Quando fazem bem feito, fazem de forma tendenciosa. Tratam acusados como culpados por puro despreparo e desconhecimento de trâmites judiciais. No caso da violência sexual, a imprensa sempre tem tratado o tema com certa irresponsabilidade, divulgam nomes de possíveis agressores como culpados, sem levar em conta as consequências que podem ser sofridas pelo acusado numa sociedade que pune a ferro e fogo violadores dos direitos sexuais.

Voltando ao caso de Joanna Maranhão, só mesmo a imprensa poderá culpar o ex-treinador, já que será muito difícil, já que tantos anos se passaram, provar quem está ao lado da verdade. Ao tratar o acusado como culpado, a imprensa cava sua própria cova, de uma morte anunciada numa crônica não tão engraçada como a de Gabriel Garcia Márquez.

A mídia e o fim da CPMF

“A maior derrota do Governo Lula”, veio com sabor de vitória para a mídia brasileira. Muitos jornais não conseguiram esconder seu ar de contentamento nas matérias publicadas na manhã desta quinta-feira (13), quando, ao final da contagem, a base aliada contabilizava 45 dos 49 votos necessários para prorrogar a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). A mídia tem sua parcela de culpa, ou melhor mérito, na não aprovação da CPMF? Sim, ela tem.

Lembremos que o imposto foi criado em 1993, na época, a oposição formada em sua maioria por petistas e outros partidos “vermelhos” eram contra. Por três vezes, a contribuição foi prorrogada sob o silêncio da mídia brasileira.

Desta vez, a prorrogação foi um prato cheio para a imprensa. Os oposicionistas da época defendem a sua manutenção, enquanto os parteiros tucanos e aliados visam a sua extinção. A decisão do Governo Lula foi apresentada como uma questão ética pela grande mídia. Se eles não a queriam no passado, porque querem a CPMF agora?

Como numa conspiração perfeita, o agendamento do caos da saúde também colaborou com a queda do tributo na noite de ontem, em sessão dirigida pelo novo presidente do Senado, o potiguar Garibaldi Alves. O governo alegava que a saúde seria a área mais afetada com o fim da contribuição. A mídia, para lembrar e rechaçar a tentativa do governo em prorrogar o tributo para o bem-estar nacional, resgatava as matérias do agenda-setting da saúde, mostrando que com ou sem o imposto a saúde passa mal.

Depois da saúde, que não passa bem às vistas da mídia e da “opinião pública” ou publicada é o próprio Senado, no episódio brejeiro do senador alagoano Renan Calheiros. Nesta, a mídia nos dava a entender de que, como o presidente da Casa Legislativa é alido ao Governo Lula, esta era uma parte do governo. Se a credibilidade política não vai bem desde os tempos mensaleiros, agora despenca. A mídia investe na queda do senador e constrói a nova musa Mônica Veloso.

A mídia traz à tona o agendamento da CPMF também como uma responsabilidade do Senado Nacional em reprová-la, a fim de mostra sua independência em relação ao Governo Lula e como forma de resgate de sua credibilidade junto à “opinião publicada”.