Publicada originalmente no Observatório da Imprensa
ENTREVISTA / MARCELO TAS
“Vamos continuar incomodando os caras”
Renata Camargo
Acostumado a fazer perguntas indiscretas a políticos desde que interpretou, ainda nos anos 80, o repórter Ernesto Varela, o jornalista, ator e roteirista Marcelo Tas é o comandante de uma bancada que tem irritado os parlamentares com abordagens desconcertantes. Varela ganhou destaque como o repórter de mentira que fazia perguntas inesperadas a anônimos e personalidades de verdade, inclusive políticas, no momento em que o país deixava para trás a ditadura militar (confira aqui).
De São Paulo, onde o programa Custe o que Custar (CQC) é gravado, Tas avisa a congressistas e demais autoridades que sua equipe vai continuar explorando, com humor e deboche, o farto “cardápio de pilantragem” dos políticos brasileiros. Tudo por uma nobre causa: devolver às pessoas o interesse pela política.
“Nós somos essas moscas que vão ficar incomodando os caras. Mas a gente vai falar para o cidadão: `você é um cara importante, você também tem que encher o saco deles´”, afirma, nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco.
Para ele, não existe arma melhor do que o riso para restabelecer esse canal, muitas vezes interrompido por sucessivos escândalos. “O humor é uma forma de compreensão. Quando você ri, quer dizer que você entendeu o que se passou. Acredito que o CQC tem trazido para a política pessoas que estavam desinteressadas pelo tema”, considera. “É isso que espero que os políticos entendam. Somos um canal para eles se comunicarem com um público que já tinha perdido as esperanças”, acrescenta.
Diretor, apresentador e roteirista de TV, Marcelo Tas participou da criação de programas como Rá-Tim-Bum, Castelo Rá-Tim-Bum e Vitrine, na TV Cultura de São Paulo. Também fez rádio e assinou colunas nos principais jornais paulistas. Autor de um blog que leva seu nome, Tas acredita que a política não mudou desde que ele deu seus primeiros passos no Congresso, mas que a participação popular ganhou com o avanço das tecnologias.
“Hoje não dá para enganar os eleitores por muito tempo, especialmente por causa da internet. Quem tiver o que esconder vai ter que acionar os seus advogados. A internet faz as coisas emergirem”, avalia. A seguir, sua entrevista.
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Qual o objetivo do novo quadro “Assessor de Imagem”, que estreou na segunda-feira (25) no CQC?
Marcelo Tas – A gente quer mostrar que, muitas vezes, a pessoa se sujeita a mudar a maneira de ser e de se comportar só para sair bem na foto. E não são só os políticos que fazem isso. No quadro, a gente entrevistou artistas, jogadores de futebol e celebridades. É para mostrar que tem gente que gosta de dar uma “photoshopada”, que nem as mulheres fazem com a celulite quando vão posar na Playboy. E mesmo que tenham de usar alguma coisa em que não acreditam ou que não faz parte deles – alguma frase, algum comportamento –, eles topam falar e fazer. A gente quer desmascarar isso.
Mas por que o quadro começou com políticos? Tem uma razão “didática”?
M.T. – Sim. A gente quer mostrar para o eleitor, para o cidadão, que nem tudo o que se vê na TV é espontâneo. O CQC quer mostrar que é bom você ficar atento, ainda mais em época de eleição. Mostrar que muita coisa, muito coisa mesmo, pode ser maquiada pelo consultor de imagem. E, às vezes, de forma absurda. O Warley [Santana] diz que é consultor, que teve treinamento com Karl Fisher, que é consultor de Barack Obama. Um nome absurdo. Karl Fisher é Carlinhos Pescador. Ele fisga esses peixes desatentos.
A escolha de dar início ao programa em ano eleitoral então foi proposital?
M.T. – Na verdade, eu já queria fazer isso há muito tempo. O programa CQC tem matriz na Argentina e alguns de nossos quadros já existiam na versão original. Agora, rico em profundidade e com a largura no cardápio de pilantragem dos políticos, isso só é possível aqui no Brasil. Aí, junto com a produção argentina, criamos o programa. Era o momento de fazer o CQC no Brasil. É muito oportuno. A gente é muito didático e os espectadores têm sido muito receptivos.
Como foi feita a escolha dos entrevistados do quadro?
M.T. – Pegamos pessoas diferentes, de diferentes partidos. É uma coisa feita sem nenhuma referência partidária. Entramos em contato com vários parlamentares, e foram acontecendo as gravações. Como eleição é um período muito delicado, pegamos políticos que não são candidatos. A gente só quer mostrar que muitos de nós, inclusive da TV, não abre mão de técnicas para melhorar a imagem diante do público, mesmo que não seja verdade. Quem tem medo ou tem a imagem muito maior do que é vai passar mal.
E quem são as próximas “vítimas”?
M.T. – (Risos) Eu não posso dizer, né?
Mas o deputado José Genoino (PT-SP) está na lista?
M.T. – Sim. O Genoino e o vereador [Carlos] Apolinário [PDT-SP] já deram declarações públicas esperneando sobre isso. É que nem criança na hora que tem que tomar injeção.
Esse tipo de “pegadinha” pode dar processo na Justiça. Como vocês lidam com isso?
M.T. – Estamos absolutamente tranqüilos. Os quadros foram todos aprovados pela Band e passaram pelo jurídico da emissora. Na verdade, vamos ficar muito felizes se ele [Sandro Mabel] nos processar. Isso vai mostrar que ele tem culpa no cartório. Isso vai confirmar tudo aquilo que o quadro pretende mostrar, que a pessoa continua tentando mostrar um personagem. O único problema é que, talvez, seja o público que vai pagar esse processo.
Você cobre política com humor desde a década de 80. Já passou por vários governos, entrevistou as mais diversas personalidades da política brasileira. O “cardápio de pilantragem dos políticos”, como você disse há pouco, está hoje mais farto do que antes?
M.T. – Eu não acho que o momento que a gente vive agora é diferente de outros. Eu cubro o Congresso desde 1983 e não acho que hoje seja diferente. O que está diferente é a sociedade, que vem se aperfeiçoando. Hoje há um maior controle, protestos, demonstrações de indignação. Os políticos, em si, continuam muito parecidos. Eu não gostaria de eleger que o governo Lula foi mais corrupto.
E qual o principal problema do político brasileiro?
M.T. – Apostar na ignorância do cidadão. O [senador José] Sarney deu uma entrevista esses dias dizendo que não sabia que havia tortura na época da ditadura. Por favor, como ele não sabia?! Ele participou da ditadura e foi quem distribuiu concessões de canais de rádio e TV para os coronéis do Nordeste. Eu, atualmente, aposto na inteligência do CQC e do público. Figuras como o Sarney serão ejetadas da política. São figuras execráveis, posam como intelectuais e imortais e pensam que somos idiotas. Eu sei que eu pego no pé do Sarney e que têm vários outros. Mas o Sarney simboliza um tipo de pensamento antigo que está sendo varrido do mapa, especialmente por causa da internet.
Qual o papel da internet nisso?
M.T. – Acontece no momento uma grande mudança. A gente não depende mais do rádio ou da TV para se informar. A gente tem a internet, que é uma comunicação muito mais livre. O CQC representa essa mudança. A audiência do programa na internet é tão grande quanto na TV. Esse é um momento inédito. Na TV temos atingido de seis a oito pontos nos índices de audiência. Na internet, temos uma parceria com o site Youtube, que tem vídeos com milhares de acessos. A internet faz as coisas emergirem. As informações ficam cada vez mais visíveis.
Você fala em novo momento, em fase de mudança, mas o que isso vai mudar na política?
M.T. – Esse aperfeiçoamento beneficia os bons políticos. No Brasil, a gente vê a palavra político quase como um adjetivo, o que é errado. Há bons políticos. Há uma mudança na direção de mais transparência. Inclusive, se você me perguntar uma palavra que define o quadro Assessor de Imagem, eu respondo que é transparência. Hoje não dá para enganar os eleitores por muito tempo, especialmente por causa da internet. Quem tiver o que esconder vai ter que acionar os seus advogados.
Qual o papel do eleitor nessa mudança?
M.T. – Há uma extrema distância do eleitor para a atuação do candidato que ele elegeu. O eleitor vota e, pouco depois, não tem a menor noção em quem votou. O importante é que você cobre do candidato que votou. Isso a gente vai estimular muito no programa. Nós somos essas moscas que vão ficar incomodando os caras. Mas a gente vai falar para o cidadão: ‘você é um cara importante, você também tem que encher o saco deles’. Voltamos o nosso canhão também para o cidadão com o quadro Teste de Honestidade. A idéia não é só falar mal de político.
E o humor é uma maneira eficiente de aproximar os que não gostam de política da política?
M.T. – O humor é uma forma de compreensão. Quando você ri, quer dizer que você entendeu o que se passou. Acredito que o CQC tem trazido para a política pessoas que estavam desinteressadas pelo tema. E é isso que espero que os políticos entendam. Somos um canal para eles se comunicarem com um público que já tinha perdido as esperanças.
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